sábado, 3 de março de 2012




“Acho que a gente não precisa concordar pra se entender. A gente nunca se entendeu mesmo.”

Foi explicando o rolo que eu tenho contigo pra uma amiga que me caiu a ficha.

Quero resolver isso.

...

Eu quero passar um final de semana contigo.

...

Pode parecer sem sentido depois de seis meses te fazer essa proposta, mas tenho pra mim – e não sei o porquê – que é impossível não sermos nós mesmos com o convívio. Uma hora a gente perde o controle, deixa escapar, e acaba se revelando como é. Além disso, pra ser honesta, eu me gosto muito mais quando não preciso me esforçar nas poucas horas que duram os nossos encontros pra tentar te impressionar.

Vamos viajar. Não importa o destino. Pode ser aquele lugar que você tanto gosta, já não acho longe demais. Enfrentei distância muito maior pra chegar até aqui e te pedir pra acordar comigo no sábado e no domingo. Você sabe como isso é difícil.

Só que agora eu quero um final de semana de trégua. Das minhas inseguranças, das tuas defesas, dos nossos mal-entendidos. Enfim, de tudo o que não conseguimos resolver, nem juntos, nem separados – pelo menos quando eu deito a cabeça no travesseiro.

Então vamos sair, curtir a praia, beber cerveja, falar amenidades. A gente também pode comer chocolate, ouvir música na viagem, dar boas risadas. E depois de um dia divertido, tomar banho juntos e dormir abraçados.

Agora eu já me sinto preparada pra gente se aproveitar ao máximo. Sem nenhuma defesa, cobrança ou contradição. Prometo não falar do passado, de ex-namorados e de qualquer outro assunto chato que me vem à cabeça quando eu tento criar uma barreira entre nós pra me proteger e não correr o risco de me machucar outra vez.

Descobri que não preciso me proteger de ti, porque é quando estamos juntos que eu me sinto mais feliz. Além disso, já não me percebo tão vulnerável contigo hoje porque, nessa tua forma estranha de gostar sem se entregar, sei que tem algum espaço pra mim – eu é que não soube aproveitar.

Por isso resolvi me soltar, me perder no teu abrigo durante 48h, me deixar levar. Preciso me desfazer do peso de ser uma pessoa que eu não sou, essa mulher que provoca e foge, que instiga e some, que duvida querendo acreditar mas que recua sempre que você resolve, de tempos em tempos, dar o braço a torcer por algum motivo que eu desconheço e me procurar.

Cansei de ser a durona, a que se faz de difícil para você enxergar diferente. A gente já se conhece há tanto tempo e você já tinha percebido isso antes mesmo de rolar o nosso primeiro beijo. Não me sinto mais obrigada e te mostrar que sou uma mulher de valor.

Só que eu também posso ser uma pessoa leve, que não deixa de fazer o que tem vontade pensando no que pode acontecer depois.

E se o que acontecer depois for só um “a gente se fala” entre nossos sorrisos desajeitados quando eu descer do teu carro, topo mesmo assim. Não só porque eu gosto um monte de ti, mas porque eu sei que, dessa vez, quem vai ter te usado sou eu.

Sabe, a gente não precisa encontrar a solução se acreditar que o erro é o caminho certo.

Então decidi que te quero por completo, nem que seja só por uma vez.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

The Romantics

-----

Oi.

Resolvi te escrever porque preciso da tua ajuda pra uma coisa importante: decidi te esquecer. Fazia meses que eu não acordava tão animada e determinada a atingir esse objetivo. Depois de tanto tempo em que tentamos ser polidos, acho natural você atender o meu pedido, ainda que não concorde com ele.

Não quero dizer os motivos. Eles já não fazem mais sentido a partir do momento em que eu tomei essa decisão. Na verdade, o que eu preciso que você faça é bem simples: não me procura. Nunca mais.

Não manda SMS, não me liga, não comenta nada no Facebook, não dá indireta no Twitter, não aparece aqui em casa de surpresa. Não me convida pra um chimarrão, um passeio no parque com o teu cachorro ou o teu sobrinho, um chopp gelado, boas risadas e um sábado de sol na praia. Não diz que se lembrou de mim ouvindo uma música, lendo a coluna da Martha Medeiros ou comendo um chocolate. Não me prega nenhuma peça.

Você bem sabe que, se fizer isso, vai mexer comigo e estragar todo o meu processo de esquecimento. Se te conforta, não é você que está me perdendo, sou eu que já não aguento.

Nosso rolo já fez aniversário, nosso enredo já é obsceno, já nos falta até respeito. E pra mim, depois que acaba o respeito, termina qualquer chance de relacionamento. Sim, mesmo depois de todo esse tempo, eu ainda achava que a gente tinha uma ficha pra apostar, que um dia você poderia me enxergar diferente, ver em mim a única mulher em quem você confiaria pra namorar (sem me ligar no dia seguinte dizendo que estava bêbado quando falou qualquer coisa do tipo e que era pra eu esquecer a “besteira” que você tinha dito).

Mas tu, e a maioria dos caras que eu conheço, tem essa mania adolescente de achar que é preciso estar apaixonado pra se entregar. Por isso que os teus relacionamentos hoje em dia duram menos que o meu rolo de papel higiênico. Não, não é porque você só faz merda. É porque a paixão passa rápido e, quando ela acaba, eles já estão fadados ao fracasso.

Então eu andei pensando – e até a noite passada isso me tirava o sono, mas agora é um alívio – que foi bom você nunca se apaixonar por mim. Já teria acabado e eu provavelmente estaria triste, o que não é o caso. Me sinto livre.

Só pra reforçar: não me procura mais. Cartas na mesa, assume de vez a tua indiferença e me deixa tocar a minha vida sem interferência.

Sim, podemos ser amigos, mas aqueles amigos distantes, sabe? Que nunca se veem, nunca se falam, que moram longe um do outro, que são unidos apenas pelas lembranças dos bons momentos que passaram juntos.

Ah, essas lembranças...aquele dia em que fizemos o passeio de barco, lembra? E aquele dia do piquenique na praça? Tem também o final de semana em Gramado, e a noite perfeita que passamos juntos pela primeira vez.

E ainda o teu cheiro, a tua covinha, os teus olhos que mudam de cor com a luminosidade, o teu sorriso que me faz esquecer todos os problemas do mundo. Mas deixa isso tudo pra lá.

Como eu ia dizendo,

...

...onde eu parei mesmo?

Já nem me lembro por que comecei a te escrever (imersa agora em tantos outros pensamentos).

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Bola Fora


Dessa vez eu não vou pedir desculpa. Nem vem. Sabe, não é orgulho, é justiça.

Não fui eu quem errou.

Eu nunca cobrei nada, nem corri atrás. Respeitei todas as vezes em que você disse que estava confuso e preferia manter distância.

Não que eu ache que a distância resolva alguma coisa. Pra mim, é como colocar a sujeira debaixo do tapete, até que o tempo nos faça esquecer de que ela está lá. Na verdade, respeitei porque não tive escolha, porque não quero dar soco em ponta de faca, porque sei que, independente do que eu fizesse, não surtiria efeito.

Você está mesmo perdido.

Perdido de amor, perdido no tempo, no emprego, no antigo relacionamento, na vida. Não faço idéia. O que eu sei é que, no meio desse turbilhão de pensamentos que te consomem, o espaço que sobrou pra mim não me serve.

Não que eu seja espaçosa, expansiva, exigente e irredutível, não é isso. É só que eu me acho mesmo uma pessoa tão bacana que merece mais. Mais do que um cara que me fala tudo o que eu quero ouvir e depois volta atrás, mais do que um cara que me manda mensagens de madrugada dizendo que quer ficar comigo e no outro dia se arrepende, mais do que um cara que não sente que a única saída para a sua ansiedade é me ver e, se sente, não demonstra a ponto de me passar a segurança de me jogar sem medo porque não vai desaparecer depois. Na verdade, eu mereço mais do que alguém que só se deixa envolver até certo ponto.

Não que eu te queira por inteiro, não tenho essa ambição ainda. A gente mal se conhece. A questão é que essa sua falta de disponibilidade me enerva, me agonia, me broxa. Como é que vou ter coragem de tentar conquistar alguém que eu já sei que só topa se entregar pela metade?

Sabe, andei pensando. Eu poderia ter me feito de louca e aproveitado todas as investidas que você fez em mim pra tentar te ganhar de vez. Bancar de “João-sem-braço”, fingir que eu também não estava disponível, que tinha um rolo mal resolvido.

Eu quis ser verdadeira.

Quis não, eu fui verdadeira. Quando eu disse que não era para você alimentar a possibilidade de uma relação se não quisesse criar vínculo, que você só me fazia mal quando decidia se afastar, que eu iria até torcer pro seu time ganhar do meu, que me machucava saber que, quanto mais eu tentava me aproximar de ti, mais você queria se aproximar de Deus, como se eu pudesse te fazer mal. Isso dói até hoje, sabia?

Não que eu tenha me apaixonado por ti.

Não é isso.

É que eu ainda não te esqueci.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012


Eu sei que a culpa não é sua.

Você não me prometeu nada, talvez em outros tempos, mas aquelas promessas foram invalidadas pelo meu comportamento e pelo seu temperamento. Eu sei também que eu riria de qualquer promessa feita, mas será que você ainda não percebeu que isso é uma especie de defesa?

Ou talvez você saiba, saiba de tudo que quero ouvir, dos sonhos que eu tenho contigo, da minha defesa, do meu remorso e até da minha vontade de fazer tudo certo – por mim e por você – quantas vezes for preciso. Talvez você saiba, e não ligue, não se importe e não veja motivo pra que essa história – que pra você é mais uma frase solta em rede sociais – passe de lembranças e alguns beijos roubados em uma noite não programada.

Ou o problema é eu saber desse seu orgulho gigantesco, desse seu jeito de esconder suas histórias, dessa forma toda sua de ver as coisas, do esforço que você fez quando eu ainda te fazia bem e de todos os nossos erros que impediram a gente de ao menos ter um fim. E também, se eu aprofundar nos conselhos dos amigos, conhecidos e confidentes, pode ser esse meu jeito negativo, meu orgulho sem motivo, minha forma de achar e criar coisas na cabeça.

Eu realmente não sei, desculpa. Mas mesmo sem saber, meu coração ainda amolece quando te vê, meu corpo ainda pede o seu abraço toda vez que se sente desprotegido, e meu sorriso, mesmo com esses dentes meio tortos, insiste em se abrir toda vez que penso em você.

Mas não esquenta, você nunca vai saber disso, pelo menos não pelas minhas palavras, eu não vou te perseguir, nem te cobrar nada. Meu sorriso meio duro, meus gestos robóticos e meu jeito programado continuará lá, toda vez que eu te ver – exceto alguma noite não programada em que eu esteja leve o bastante pra levar uma conversa normal, beijos roubados e preocupações pra mais de três semanas.

Por @Semaspas

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Eu e a Paulinha



07/11/11

Engraçado como não temos controle sobre certas coisas e isso me incomoda.

Estou no avião agora, a caminho do Rio de Janeiro.

Para quem não sabe, morei 4 anos aqui. No entanto, desde que o meu relacionamento acabou, no dia 9 de outubro do ano passado, eu nunca mais consegui pisar em solo carioca. Precisou acontecer uma fatalidade para que, de imediato, eu criasse forças para voltar.

Ontem à noite, enquanto eu assistia ao meu time perdendo para o Fluminense, recebi uma ligação de uma grande amiga, a Beth. Atendi dizendo “Tá bom, Bethina, pode tocar flauta. Eu aceito!”, achando que ela iria me zoar pelo resultado do jogo.

Bola fora.

O motivo da ligação era outro: a Paulinha, outra super amiga nossa, tinha falecido.

Na hora me passou pela cabeça que todos os dias o meu pai atende bandidos, traficantes e vagabundos aos montes no hospital que tomam tiros e saem ilesos, prontos para cometer mais uma barbárie. Também pensei na gana que ela tinha de viver, na semana que passamos só nós duas em Curitiba – e no quanto foi divertida, apesar de estarmos trabalhando -, no nosso dia-a-dia na agência, onde convivemos por 3 anos, na espiritualidade dela sempre aflorada.

Não sei dizer exatamente o que senti. Foi um misto de incredulidade, de inconformismo, uma sensação de que a vida é injusta e de que ela é agora, a todo instante. Não podemos deixar de viver intensamente um minuto sequer.

A Beth me contou que, perto de uma da tarde, conversou com a Paulinha pelo telefone e ela disse que estava indo para a CTI, que não queria morrer, que passaria a ver a vida com outros olhos caso saísse daquela, que tudo seria diferente.

Aí eu me pergunto: Por que esperar chegarmos ao nosso limite para repensarmos nossas vidas, nossas atitudes? Por que não podemos resolver questões que nos incomodam, que nos afligem, que estão pendentes hoje mesmo?

Estou indo me despedir de uma amiga, certa de que as amizades fazem a gente superar os nossos medos e de que o amor não morre, adormece.

E o meu acordou pra valer.

Tenho mais uma coisa pra fazer no Rio e, dessa vez, eu não vou deixar passar. Preciso resolver.

---------

08/11/11

Eu tentei. Mandei o SMS, só que me esqueci de colocar o DDD.

(e a coragem já voltou pra Porto Alegre...)

quarta-feira, 2 de novembro de 2011



Oi.

:)

Desculpa a minha falta de jeito, é que depois de tanto tempo confesso que fico um pouco sem graça pra falar.

Estou te escrevendo para dizer que eu tenho mentido pra você. É, desde o primeiro conflito, desde aquele seu sumiço que nada a tinha a ver comigo.

...

A verdade é que não sei de onde eu tirei que somos incompatíveis.

Eu gosto de sertanejo e você adora música eletrônica, é verdade, mas naquele dia em que tocou Simon Webbe no rádio enquanto estávamos juntos, nos olhamos e sorrimos um pro outro e não foi preciso mais nada pra provar a nossa sintonia.

Bebo cerveja na balada, você toma vodka com energético, eu sei, mas já degustamos um vinho em uma “reunião de pazes” com camarão e blábláblá e os dois pareceram gostar.

Você prefere chocolate preto e eu adoro o branco, não posso negar, mas já dividimos uma barrinha meio a meio e foi um dos melhores chocolates que eu já comi em uma das ocasiões mais gostosas e divertidas que eu já vivi.

Pareço um passarinho e você é uma avelã, é fato, mas há anos as avelãs são o combustível de alguns passarinhos e lhes dão energia pra voar. E você sabe, é só eu te encontrar que fico toda boba-alegre.

Você adora ir pra Santa Catarina nos feriados e eu não sou muito de Garopaba, confesso, mas nós inventamos um destino perfeito chamado Ondonésia para passarmos noites muito e bem dormidas. Eu acordaria contigo lá (e em qualquer outro lugar).

Teimo que a gente não se encaixa, você concorda que somos diferentes, o que é evidente, mas é só olhar os nossos corpos no espelho que, como peças de Lego, eles logo nos desmentem.

Tá na cara que a gente se entende.

Você diz A, eu interpreto B, não dá pra negar, mas quando estamos juntos os cheiros e os beijos falam por nós e nenhum se atreve a discordar. Nossos sorrisos falam a mesma língua.

Eu não gosto muito de peixe cru e você é fã de comida japonesa, sem sombra de dúvida, mas já almoçamos sanduíche e Coca-Cola no banco da praça batendo papo-furado sem nem olhar pro relógio. O tempo perde totalmente o sentido quando estou contigo.

E se quer mesmo saber, eu nunca te trocaria por um cara pançudinho, que bebesse cerveja e fosse a um sertanejo comigo simplesmente porque, apesar de todas as nossas “incompatibilidades”, é de ti que eu gosto, mesmo com essa nova mania de ir a micaretas do Chiclete com Banana e apesar de tomar Jack 3D.

Sei lá, andei pensando sobre nós. Desconfio que, de tanto repetir essa história de incompatibilidade – por falta de cara-de-pau de admitir que encontrei alguém que é exatamente o meu número mesmo não tendo nada a ver comigo – acabei te convencendo disso.

Eu queria mesmo que você sempre acreditasse em mim assim, pra que eu pudesse te propor uma coisa...

Amigos?

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

"Especial pra Você"


Ontem, enquanto zapeava em busca de algo que me chamasse atenção, encontrei o filme “Idas e Vindas do Amor” começando na HBO. Apesar da impressão de que eu já tinha assistido, achei que era a melhor opção da TV a cabo naquela hora da madrugada.

Para quem ainda não teve oportunidade de curtir o filme, fica a dica. Trata-se de uma comédia romântica que traz, entre outros atores, as estrelas Jennifer Garner, Asthon Kutcher, Anne Hathaway, Bradley Cooper e Julia Roberts protagonizando histórias de um grupo de habitantes de Los Angeles cujas vidas se cruzam – em meio a romances e corações partidos – no Dia dos Namorados.

Eis que, em determinado momento do filme, uma personagem de cerca de 70 anos chamada Estelle fez valer assisti-lo novamente até o final. Após assumir uma antiga traição para o marido com quem está há cerca de 50 anos dividindo uma vida – seguida de um afastamento compreensível por parte dele, que precisava absorver não só a verdade como também os anos de silêncio –, o procura para por um fim ao conflito.

“Listen to me, I know I let you down - and maybe you don’t think I deserve forgiveness - but you’re gonna give it to me anyway because, when you love someone, you love all of them. That’s the job”. Como se não bastasse, assim que ela o desarma, emenda: “I’m so sorry. And now, please, you’ve got to love everything about them. Not just the good things, but the bad things too. The things that you find lovable and the things that you don’t find lovable”.

Não sei para vocês, mas para mim foi como um soco no rim.

Desde que o meu relacionamento de cinco anos terminou, em outubro do ano passado, eu nunca mais me propus a gostar também do que julgava ser um defeito em alguém. Talvez porque eu ainda não tenha, de verdade, sentido por outra pessoa o que eu sentia pelo meu ex-namorado, mas isso não vem o caso.

O fato é que, se você gosta de uma pessoa, você precisa gostar dela na sua totalidade, incluindo tudo o que você não gosta nela. Parece maluquice, né? Mas se você pensar que uma pessoa é como um pacote de uma semana de férias em algum lugar incrível do planeta, pode fazer algum sentido. A viagem deixou de ser fantástica porque choveu naquele dia? Não. Aliás, a chuva até deu um charme diferente ao lugar, proporcionou outros programas que não estavam no roteiro. Você voltou feliz da vida do mesmo jeito, tenho certeza.

O Marcelo*, meu rolinho, não é o cara mais lindo do mundo, mas ele certamente é um dos mais divertidos e compensa qualquer barriguinha saliente; meu pai vive implicando comigo e nem por isso deixa de ser o meu herói, a pessoa em quem eu me inspiro; meu melhor amigo é um galinha de carteirinha, mas nunca me deixou na mão quando eu precisei dele em momentos difíceis pelos quais passei; meu chefe é completamente genioso, e mesmo assim é um gênio, um profissional a ser admirado.

Se eu tirasse a barriguinha do Marcelo*, a implicância do meu pai, a sem-vergonhice do meu melhor amigo e o temperamento do meu chefe, não faço idéia de como eles seriam, só sei que não seriam mais eles mesmos. Porque o que faz uma pessoa ser o que ela é são justamente as suas idiossincrasias, suas particularidades.

Vejo frequentemente os internautas escrevendo o seguinte nas redes sociais: “Quem gosta de ti não te modifica, te completa”. Tirando que eu trocaria o “completa” por “acrescenta”, concordo com a frase. Porém, enquanto isso, esses mesmos internautas (e isso me inclui, admito) não tem agido dessa forma.

Aliás, se você quer saber, não se comportam assim nem para pedir um sanduíche no drive-thru no McDonald’s – o que é bem mais simples, convenhamos. Um não quer o picles, o outro pede sem cebola. Todos optam por um lanche “especial para você”. Do mesmo modo, percebo que essa gente toda procura alguém “especial”, mas tem dificuldade de aceitar os ingredientes que fazem parte do “pacote pessoal” de cada um.

Eu, por exemplo, sou totalmente coração. Quando alguém diz que eu devo ser menos emocional, que não posso me expor tanto, que preciso ter cautela, essa pessoa acaba também fazendo com que eu perca uma das características que mais admiro em mim: a minha naturalidade. Ou seja, deixo de ser eu. Passo a pensar em como devo agir, no que devo falar, em qual seria o comportamento ideal, quais características naturais minhas devo abafar e quais eu devo evidenciar para que sejam logo percebidas e aprovadas.

Dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola e picles em um pão com gergelim é Big Mac. Uma combinação exata de sabores. Qualquer ingrediente a menos muda o sabor, a textura, o aroma. Resumindo: muda o sanduíche inteiro.

Se alguém não gosta de Big Mac, que opte por um Quarteirão, ou um Mc Chicken, então. Opções é o que não faltam. Para mim, tentar adaptar uma pessoa ao seu gosto – eliminando o que é considerado um “defeito” nela – é um dos maiores sinais de egoísmo que qualquer um pode manifestar. Significa tolher, excluir, eliminar características importantes que compõem um indivíduo e que o diferem de todos os demais, que realmente o tornam especial – se não para você, certamente para outros.

Porém, como eu disse antes (ao mencionar a frase que tem feito sucesso entre os internautas) sou a favor de acrescentar, somar, agregar. Pediu um Big Mac e acha que ele vai ficar muito mais saboroso com mostarda? Vá em frente. Conheceu um cara interessante, mas acha que ele anda acomodado? Pense em programas bacanas para os dois e o convide. Talvez ele se motive. Conheceu uma garota maravilhosa, mas acha que anda entediada? Estimule-a a fazer coisas que lhe dão prazer, incentive-a a viver.

Agora, por favor, tenha sempre em mente que haverá dias em que ela não vai estar pra festa e ele só sairá de casa pra dar uma volta na quadra com o cachorro, assim como haverá dias em que meu coração irá me entregar, em que meu pai implicará com a saia que eu vestir, em que meu melhor amigo simplesmente não irá me atender porque estará ocupado com alguma mulher, em que meu chefe me dará um sermão qualquer sem nem pensar.

As pessoas, assim como os sanduíches, tem picles, cebola e maionese. A diferença é que você não pode tirar.


*Troquei o nome do rolinho pra preservar aquele guri safado que não vale nada :P