quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

The Romantics

-----

Oi.

Resolvi te escrever porque preciso da tua ajuda pra uma coisa importante: decidi te esquecer. Fazia meses que eu não acordava tão animada e determinada a atingir esse objetivo. Depois de tanto tempo em que tentamos ser polidos, acho natural você atender o meu pedido, ainda que não concorde com ele.

Não quero dizer os motivos. Eles já não fazem mais sentido a partir do momento em que eu tomei essa decisão. Na verdade, o que eu preciso que você faça é bem simples: não me procura. Nunca mais.

Não manda SMS, não me liga, não comenta nada no Facebook, não dá indireta no Twitter, não aparece aqui em casa de surpresa. Não me convida pra um chimarrão, um passeio no parque com o teu cachorro ou o teu sobrinho, um chopp gelado, boas risadas e um sábado de sol na praia. Não diz que se lembrou de mim ouvindo uma música, lendo a coluna da Martha Medeiros ou comendo um chocolate. Não me prega nenhuma peça.

Você bem sabe que, se fizer isso, vai mexer comigo e estragar todo o meu processo de esquecimento. Se te conforta, não é você que está me perdendo, sou eu que já não aguento.

Nosso rolo já fez aniversário, nosso enredo já é obsceno, já nos falta até respeito. E pra mim, depois que acaba o respeito, termina qualquer chance de relacionamento. Sim, mesmo depois de todo esse tempo, eu ainda achava que a gente tinha uma ficha pra apostar, que um dia você poderia me enxergar diferente, ver em mim a única mulher em quem você confiaria pra namorar (sem me ligar no dia seguinte dizendo que estava bêbado quando falou qualquer coisa do tipo e que era pra eu esquecer a “besteira” que você tinha dito).

Mas tu, e a maioria dos caras que eu conheço, tem essa mania adolescente de achar que é preciso estar apaixonado pra se entregar. Por isso que os teus relacionamentos hoje em dia duram menos que o meu rolo de papel higiênico. Não, não é porque você só faz merda. É porque a paixão passa rápido e, quando ela acaba, eles já estão fadados ao fracasso.

Então eu andei pensando – e até a noite passada isso me tirava o sono, mas agora é um alívio – que foi bom você nunca se apaixonar por mim. Já teria acabado e eu provavelmente estaria triste, o que não é o caso. Me sinto livre.

Só pra reforçar: não me procura mais. Cartas na mesa, assume de vez a tua indiferença e me deixa tocar a minha vida sem interferência.

Sim, podemos ser amigos, mas aqueles amigos distantes, sabe? Que nunca se veem, nunca se falam, que moram longe um do outro, que são unidos apenas pelas lembranças dos bons momentos que passaram juntos.

Ah, essas lembranças...aquele dia em que fizemos o passeio de barco, lembra? E aquele dia do piquenique na praça? Tem também o final de semana em Gramado, e a noite perfeita que passamos juntos pela primeira vez.

E ainda o teu cheiro, a tua covinha, os teus olhos que mudam de cor com a luminosidade, o teu sorriso que me faz esquecer todos os problemas do mundo. Mas deixa isso tudo pra lá.

Como eu ia dizendo,

...

...onde eu parei mesmo?

Já nem me lembro por que comecei a te escrever (imersa agora em tantos outros pensamentos).

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Bola Fora


Dessa vez eu não vou pedir desculpa. Nem vem. Sabe, não é orgulho, é justiça.

Não fui eu quem errou.

Eu nunca cobrei nada, nem corri atrás. Respeitei todas as vezes em que você disse que estava confuso e preferia manter distância.

Não que eu ache que a distância resolva alguma coisa. Pra mim, é como colocar a sujeira debaixo do tapete, até que o tempo nos faça esquecer de que ela está lá. Na verdade, respeitei porque não tive escolha, porque não quero dar soco em ponta de faca, porque sei que, independente do que eu fizesse, não surtiria efeito.

Você está mesmo perdido.

Perdido de amor, perdido no tempo, no emprego, no antigo relacionamento, na vida. Não faço idéia. O que eu sei é que, no meio desse turbilhão de pensamentos que te consomem, o espaço que sobrou pra mim não me serve.

Não que eu seja espaçosa, expansiva, exigente e irredutível, não é isso. É só que eu me acho mesmo uma pessoa tão bacana que merece mais. Mais do que um cara que me fala tudo o que eu quero ouvir e depois volta atrás, mais do que um cara que me manda mensagens de madrugada dizendo que quer ficar comigo e no outro dia se arrepende, mais do que um cara que não sente que a única saída para a sua ansiedade é me ver e, se sente, não demonstra a ponto de me passar a segurança de me jogar sem medo porque não vai desaparecer depois. Na verdade, eu mereço mais do que alguém que só se deixa envolver até certo ponto.

Não que eu te queira por inteiro, não tenho essa ambição ainda. A gente mal se conhece. A questão é que essa sua falta de disponibilidade me enerva, me agonia, me broxa. Como é que vou ter coragem de tentar conquistar alguém que eu já sei que só topa se entregar pela metade?

Sabe, andei pensando. Eu poderia ter me feito de louca e aproveitado todas as investidas que você fez em mim pra tentar te ganhar de vez. Bancar de “João-sem-braço”, fingir que eu também não estava disponível, que tinha um rolo mal resolvido.

Eu quis ser verdadeira.

Quis não, eu fui verdadeira. Quando eu disse que não era para você alimentar a possibilidade de uma relação se não quisesse criar vínculo, que você só me fazia mal quando decidia se afastar, que eu iria até torcer pro seu time ganhar do meu, que me machucava saber que, quanto mais eu tentava me aproximar de ti, mais você queria se aproximar de Deus, como se eu pudesse te fazer mal. Isso dói até hoje, sabia?

Não que eu tenha me apaixonado por ti.

Não é isso.

É que eu ainda não te esqueci.