terça-feira, 8 de novembro de 2011

Eu e a Paulinha



07/11/11

Engraçado como não temos controle sobre certas coisas e isso me incomoda.

Estou no avião agora, a caminho do Rio de Janeiro.

Para quem não sabe, morei 4 anos aqui. No entanto, desde que o meu relacionamento acabou, no dia 9 de outubro do ano passado, eu nunca mais consegui pisar em solo carioca. Precisou acontecer uma fatalidade para que, de imediato, eu criasse forças para voltar.

Ontem à noite, enquanto eu assistia ao meu time perdendo para o Fluminense, recebi uma ligação de uma grande amiga, a Beth. Atendi dizendo “Tá bom, Bethina, pode tocar flauta. Eu aceito!”, achando que ela iria me zoar pelo resultado do jogo.

Bola fora.

O motivo da ligação era outro: a Paulinha, outra super amiga nossa, tinha falecido.

Na hora me passou pela cabeça que todos os dias o meu pai atende bandidos, traficantes e vagabundos aos montes no hospital que tomam tiros e saem ilesos, prontos para cometer mais uma barbárie. Também pensei na gana que ela tinha de viver, na semana que passamos só nós duas em Curitiba – e no quanto foi divertida, apesar de estarmos trabalhando -, no nosso dia-a-dia na agência, onde convivemos por 3 anos, na espiritualidade dela sempre aflorada.

Não sei dizer exatamente o que senti. Foi um misto de incredulidade, de inconformismo, uma sensação de que a vida é injusta e de que ela é agora, a todo instante. Não podemos deixar de viver intensamente um minuto sequer.

A Beth me contou que, perto de uma da tarde, conversou com a Paulinha pelo telefone e ela disse que estava indo para a CTI, que não queria morrer, que passaria a ver a vida com outros olhos caso saísse daquela, que tudo seria diferente.

Aí eu me pergunto: Por que esperar chegarmos ao nosso limite para repensarmos nossas vidas, nossas atitudes? Por que não podemos resolver questões que nos incomodam, que nos afligem, que estão pendentes hoje mesmo?

Estou indo me despedir de uma amiga, certa de que as amizades fazem a gente superar os nossos medos e de que o amor não morre, adormece.

E o meu acordou pra valer.

Tenho mais uma coisa pra fazer no Rio e, dessa vez, eu não vou deixar passar. Preciso resolver.

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08/11/11

Eu tentei. Mandei o SMS, só que me esqueci de colocar o DDD.

(e a coragem já voltou pra Porto Alegre...)

quarta-feira, 2 de novembro de 2011



Oi.

:)

Desculpa a minha falta de jeito, é que depois de tanto tempo confesso que fico um pouco sem graça pra falar.

Estou te escrevendo para dizer que eu tenho mentido pra você. É, desde o primeiro conflito, desde aquele seu sumiço que nada a tinha a ver comigo.

...

A verdade é que não sei de onde eu tirei que somos incompatíveis.

Eu gosto de sertanejo e você adora música eletrônica, é verdade, mas naquele dia em que tocou Simon Webbe no rádio enquanto estávamos juntos, nos olhamos e sorrimos um pro outro e não foi preciso mais nada pra provar a nossa sintonia.

Bebo cerveja na balada, você toma vodka com energético, eu sei, mas já degustamos um vinho em uma “reunião de pazes” com camarão e blábláblá e os dois pareceram gostar.

Você prefere chocolate preto e eu adoro o branco, não posso negar, mas já dividimos uma barrinha meio a meio e foi um dos melhores chocolates que eu já comi em uma das ocasiões mais gostosas e divertidas que eu já vivi.

Pareço um passarinho e você é uma avelã, é fato, mas há anos as avelãs são o combustível de alguns passarinhos e lhes dão energia pra voar. E você sabe, é só eu te encontrar que fico toda boba-alegre.

Você adora ir pra Santa Catarina nos feriados e eu não sou muito de Garopaba, confesso, mas nós inventamos um destino perfeito chamado Ondonésia para passarmos noites muito e bem dormidas. Eu acordaria contigo lá (e em qualquer outro lugar).

Teimo que a gente não se encaixa, você concorda que somos diferentes, o que é evidente, mas é só olhar os nossos corpos no espelho que, como peças de Lego, eles logo nos desmentem.

Tá na cara que a gente se entende.

Você diz A, eu interpreto B, não dá pra negar, mas quando estamos juntos os cheiros e os beijos falam por nós e nenhum se atreve a discordar. Nossos sorrisos falam a mesma língua.

Eu não gosto muito de peixe cru e você é fã de comida japonesa, sem sombra de dúvida, mas já almoçamos sanduíche e Coca-Cola no banco da praça batendo papo-furado sem nem olhar pro relógio. O tempo perde totalmente o sentido quando estou contigo.

E se quer mesmo saber, eu nunca te trocaria por um cara pançudinho, que bebesse cerveja e fosse a um sertanejo comigo simplesmente porque, apesar de todas as nossas “incompatibilidades”, é de ti que eu gosto, mesmo com essa nova mania de ir a micaretas do Chiclete com Banana e apesar de tomar Jack 3D.

Sei lá, andei pensando sobre nós. Desconfio que, de tanto repetir essa história de incompatibilidade – por falta de cara-de-pau de admitir que encontrei alguém que é exatamente o meu número mesmo não tendo nada a ver comigo – acabei te convencendo disso.

Eu queria mesmo que você sempre acreditasse em mim assim, pra que eu pudesse te propor uma coisa...

Amigos?